Você já ouviu falar em “complexo de vira-lata”?

Segundo a Wikipedia, o complexo de vira-lata é “uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a qual originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. O fenômeno também é referido como vira-latismo.

Nelson Rodriguez disse:

Por “complexo de vira-lata” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.

Resumindo, o brasileiro tem uma tendência muito grande de achar que tudo que existe em países de fora deve ser muito bom e que nada no Brasil presta.

Eu acredito que isso tem raízes profundas no processo de colonização e tudo que o seguiu e envolveu nosso país política e economicamente. Sendo um país com tantos problemas e sendo bombardeados por tantas notícias ruins todos os dias, os brasileiros simplesmente encontram dificuldades para encontrar pontos positivos na nossa terrinha.

Quando eu era estudante universitária e ir para o Japão ainda era um sonho distante, lembro de pensar como eu queria viajar logo para a terra do sol nascente. Eu nunca tinha ido até lá, mas tirando pelos filmes, séries de TV e notícias, o Japão era um lugar maravilhoso, com um povo respeitoso e cheio de consideração. Era um mundo mágico onde tudo funcionava.

Enquanto aqui, no Rio de Janeiro, eu muitas vezes esperava mais de 30 minutos dentro de um trem com defeito. Ambulantes passavam fazendo barulho demais, jogando a mercadoria deles em cima de mim. Dentro de mim, a vontade de ir para o Japão aumentava cada vez mais.

Antes de conseguir ir para o Japão, acabei vendo um anime muito curioso, chamado Michiko to Hatchin.

Esse anime conta a história de Michiko Malandro (melhor sobrenome do mundo!), que foge da cadeia para reencontrar sua filha pequena, Hatchin, que nunca a conheceu.

O divertido desse anime é que ele se passa em locais que foram completamente inspirados pelo Brasil e outros países da América do Sul. A trilha sonora foi feita por um brasileiro e tem músicas em português. Até o dinheiro utilizado é inspirado no Real brasileiro.

 

 

Eu me diverti muito ao ver minha terra representada em um anime, essa mídia super popular do país que eu mais idolatrava, o Japão. Ele me fez ver com outros olhos as ruas por onde eu passava. A arquitetura, as plantas, as pessoas, tudo de algum modo parecia mais especial. Como se eu tivesse aberto meus olhos de vez para a beleza do meu país.

Quando finalmente fui ao Japão, ele era tudo o que eu sonhava que seria. Eu me diverti muito e fiz amigos para a vida toda. Mas não estava mais deslumbrada. Mesmo antes de sair do avião, apesar de estar muito animada, eu não estava esperando ir para um lugar “melhor do que o Brasil”. Eu estava apenas indo conhecer um lugar que sempre quis visitar. Não estava tentando escapar de nada.

É incrível para mim perceber agora, que um anime conseguiu fazer esta revolução dentro mim. Acho que ao ver meu país representado e pintado pelos olhos de um outro povo, enxerguei pelos olhos deles, sem as lentes do complexo de vira-lata.

Desde aquela época, já visitei o Japão 4 vezes. Cada vez que eu vou, conheço mais e compreendo um pouco mais o povo japonês. Mas mais do que isso, sinto que entendo mais meu coração de brasileira e valorizo mais o meu país. Acho que no final das contas, a melhor parte de conhecer uma cultura diferente da sua, é através do processo conhecer melhor a si mesmo.

Por que será que brasileiros toleram mais atrasos que os japoneses? Por que será que as taxas de suicídio são tão altas no Japão? Ao mesmo tempo, por que será que a longevidade no Japão é tão impressionante?

No Japão as pessoas não tiram férias como no Brasil. Tirar 30 dias de férias é uma coisa considerada impossível. Os japoneses com quem eu falei a respeito nem gostam da ideia, afinal alguém poderia achar que eles são substituíveis. “E se meu chefe resolver me demitir?”.

No Japão, muitos filhos não cuidam dos pais idosos como no Brasil. A taxa de pessoas solitárias é muito alta. Muitos idosos morrem sozinhos nas casas que moram e os corpos só são encontrados dias e dias depois, por causa do mau cheiro.

No Japão o problema da solidão é tão intenso, que existem empresas que literalmente alugam atores para fingirem que são amigos, familiares, namorados e namoradas. Esse tipo de coisa foi abordado em séries e filmes como O Date Perfeito e Maniac, na Netflix. Infelizmente isso já é realidade há muito tempo no Japão.

Acho que é comum sentirmos vontade de defender o Brasil quando estrangeiros o ofendem. Vemos fácil no Twitter isso acontecer. Mas quando falamos entre nós, acabamos deixando de apreciar o país que temos (fácil de ver no twitter também). Desconhecemos nossos recursos, depreciamos nossos compatriotas, seguimos a moda ditada por outros países.

Quando penso em tudo isso, acabo achando que a vantagem da amizade do Brasil com o Japão não é de modo algum unilateral. Temos muito o que aprender com os japoneses, mas eles também tem muito o que aprender com o Brasil, com os brasileiros. Mas para que possamos oferecer o presente do nosso conhecimento e cultura, primeiro nós mesmos precisamos estar cientes de que temos muito a oferecer.

Convido você, amig@ brasileir@, a pensar em 3 coisas que você adora na sua terrinha e compartilhar com a gente.

As minhas são:

  1. As pessoas são prestativas. Já experimentou passar mal ou cair na rua? Todo mundo para pra te ajudar.
  2. As pessoas são resilientes e criativas. Não é à toa que falamos “o brasileiro tem que ser estudado”.
  3. O mundo todo cabe no Brasil. Temos todo o tipo de rosto e todo tipo de comida.

Obrigada por ter lido até aqui. Espero seu comentário. 🙂

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